Nessa semana estava
especialmente focada em olhar além de mim mesma, o cotidiano das
pessoas ao meu redor, o pitoresco, algo digno de ser escrito. Algo
verdadeiro.
Fazia algum tempo que
tentava fazer essa nova proposta, mas ainda não tinha capturado algo que
valeria a pena, só pessoas andando e conversando sobre suas vidas pessoais,
assuntos pouco interessantes. Como já disse, queria uma coisa além de normal,
algo um tanto especial no meio dessa normalidade.
Em um outro dia, sai de
casa para comprar alguma coisa para minhas novas experiências. Aproveitei para
admirar e observar as ruas. Coisas simples aconteciam, meu olhar foi
além das ruas, e se moveu para as janelas de prédios. O que via era normal
também: Gatos andavam pelas janelas e se esfregavam nas redes brancas. Mulheres e homens fumavam seus cigarros e olhavam para todas as direções para comprovar que
ninguém os observava (até que isso seria interessante).
De repente, sinto meu corpo
ir para traz e quase tropeço em alguém, um alguém que não me viu também. Ao invés
de olhar para frente, a mulher olhava para seu espelhinho de dois lados, com o
aro branco, que segurava com firmeza, com uma de suas mãos, e imensas unhas pintadas de vermelho sangue.
Quando olhei para onde sua
face deveria estar, vi meu próprio rosto assustado e deformado refletido, não
sabia quem era que estava olhando para quem. Lancei um olhar incomum pelo segundo e último instante, observando meu rosto, como se fosse pela primeira vez.
Depois de alguns segundos, a mulher sem rosto realizou um longo e teatral passo
para o lado e seguiu seu caminho, sem nunca tirar o espelho da frente.
Não era eu que estava
treinando o olhar para fora de mim, procurando o pitoresco?
Será que todos temos nossos
espelhos apontados para nós mesmos? Será que todos são incapazes de olhar para fora, para o outro, para o mundo? O outro que faz quem nós somos. Talvez exagero, a mulher estava se arrumando, mas as vezes o exagero é uma boa ferramenta para crônicas.
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