Tuesday, February 3, 2015

o final


Tudo tem um final, e isso me deixa profundamente triste, finais de picolés, finais de comidas preferidas, finais de músicas queridas, finais de filmes!
Mas nada se compara aos finais de livros, esses eu nem quero pensar... Desde que eu entrei no mundo maravilhoso dos livros, eu não consigo parar de ler, é tudo deslumbrante. Sentir o cheiro das páginas, conhecer um mundo novinho em folha, conhecer por dentro e por fora cada um dos personagens, se deliciar com as frases engraçadas, sofrer junto com os personagens queridos, ler as partes mais assustadoras e chocantes para a pessoa que está ao seu lado, essas são algumas das maravilhas desse mundo à parte.
O fim tem muitos lados, mas vou falar dos dois principais. Um lado tem a perda e o esquecimento e do outro, tem a graça e a beleza. Não existiriam leitores, nem escritores sem o final, os livros virariam um infinito, o mesmo de não existir livros, e nós ficaríamos vagando, procurando uma cura para a imortalidade. O final coroa os livros, da importância para eles, para tudo que acaba. Nos faz ter a capacidade de chamar algo de querido e precioso, algo de seu.
No livro História Sem Fim, Michael Ende diz que todas as verdadeiras histórias são uma História Sem Fim, e  isso é completamente verdade, o livro sempre vai estar comigo, eu acredito e leio ele e isso o faz existir. O livro não é nada, ele só é alguma coisa se eu interagir com ele, e ai eu viro cúmplice do autor diretamente. 
O problema é a passagem pela fronteira, o segundo estágio aquele em que não é mais um objeto que se usa para interagir com o autor, mas uma parte de mim, a fronteira que cutuca o meu coração e desfigura tudo ao meu redor, isto é, o fim que não é fim.
Quando estou lendo, simplesmente lendo no meu canto, eu me isolo das outras pessoas, me esqueço onde estou, dos passos e as conversas de fora e entro em outra atmosfera, estou em outro mundo, e este é o dos livros. Me sinto sendo puxada disso tudo e voltando para minha habitual vida normal quando alguém interrompe minha leitura. É tão mágico estar entre dois mundos, e a passagem, o portal entre eles estar em minhas mãos, ir e voltar tão facilmente, quando alguns nem se atrevem experimentar. Para que precisamos ir a Marte quando se tem isso?
Depois de terminar o livro, eu não acompanho mais seu tempo, o tempo segue sem minha presença e  já não sei o que está acontecendo, sou jogada para fora, e essa é a diferença entre estar lendo e depois passar pelo fim, o portal é tirado de mim. Quando eu estou lendo, minha forma e minha cabeça toda estão no livro e estão no tempo dele, mais que isso, o livro segue o meu próprio tempo, me acompanha, depois do fim, eu só olho de fora o grande todo, algumas partes estão apagadas, e tudo parece uma ilusão, eu invejo quem está dentro e anseio por voltar, nós podemos voltar para esse mundo, mas ele nunca vai ser o mesmo, ele não vai ser mais novo e impressionante como ele era antes.
O único remédio para o vazio que o final dos livros deixa nas pessoas é ler outros e outros e mais outros livros até o infinito.




3 comments:

  1. Marina,
    muito emocionante a sua crônica, sobre os vários portais da vida, e as simultaneidades e a vida secreta dos livros.Sabe, os finais são ótimos na verdade, porque as coisas sem final são coisas sem tamanho, e coisas sem tamanho tendem a ser monstruosas. :-)
    No começo, ao falar das séries você fala de uma ELA, ela quem?
    Acento no verbo está. e estágio EM que...
    a passagem sobre a fronteira, o sair e entrar no livro, talvez possa ser um pouco mais trabalhada, para ganhar clareza.
    No mais, texto lindo sobre livros e leituras.
    Bom trabalho!
    Luana

    ReplyDelete
  2. Marina,
    Outra possibilidade para a questão do fim é a de podermos voltar ao livro em outros momentos. Cada leitura terá novos sabores e percepções, pois como você diz, criará uma fronteira nova uma vez que a realidade do leitor é outra. Por isso vou ler sua crônica linda mais algumas vezes. MC

    ReplyDelete

Sobre alguém do além do aquém